Encontrei um caderno no chão. Estava todo rabiscado. Esses rabiscos eram desabafos de uma pessoa sofrida. Acompanhei cada detalhe da vida desse ser que se dizia muito solitário. Apaixonei-me, pois não consegui evitar o sentimento que transbordava daquelas palavras. Quis lhe dá proteção. Durante a noite eu chorava e sufocava os soluços com o travesseiro ao atravessar aquele mundo tortuoso. Voltei várias vezes ao lugar onde tinha encontrado aquele caderno, que parecia mais um corpo machucado. Era uma vida que ia se dilacerando, que esvaia-se. Alí, no mesmo lugar onde encontrei o caderno, senti-me entontecida, mesmo com o vento fresco a brincar com meus cabelos e tocar suavemente o meu rosto. Esperava que o dono visse o caderno em minha mão e o reclamasse de volta, mas isso não aconteceu.
Avançando mais algumas páginas, algo me chamou a atenção, pois havia uma frase em letras garrafais bem no início da página: "Quem já se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?" Reconheci instantaneamente a frase de Clarice Lispector. Um turbilhão maior se apossou do meu corpo, meus olhos lacrimejaram.Desejei profundamente conhecê-lo e que estivesse bem, já que, nesta página ele narrava uma tentativa de suicídio que, felizmente, não deu certo. A vista escureceu e fui tomada por uma vertigem ao imaginar o que se passava na mente dele ao sentir o corpo desfalecer... Por meses estive todos os dias naquele mesmo lugar e ninguém nunca exigiu o caderno que sempre trazia nas mãos. Com o tempo acabei desistindo de encontrá-lo, mas não de pensar nele. E é com saudade que lembro-me daquela pessoa que me conquistou sem nunca me conhecer Da pessoa que eu pedia para que Deus protegesse todas as noites. Essa pessoa nunca saiu da minha mente e meu pensamento nunca o abandonou.
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