sábado, 2 de abril de 2011

Felicidade Clandestina

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.




Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.



Não era mais uma menina com o livro: Era uma mulher com o seu amante.



Pg.12 Clarice Lispector

A Clarice soube expressar muito bem o amor e o prazer que uma pessoa sente quando consegue o que se deseja, e o meu caso é igual ao da personagem que desejava um livro. É exatamente assim que eu me sinto quando toco em um livro que eu desejava possuir. Quero devorá-lo sem demora, mas também quero saborear cada pedacinho dele

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